Ambipar pede recuperação judicial de R$ 10,7 bi no Brasil e Chapter 11 nos EUA

Quando Ambipar protocolou pedido de recuperação judicial na 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro na madrugada de 21 de outubro de 2025, o Brasil ganhou um dos maiores casos de crise corporativa da história recente – mais de R$ 10,7 bilhões em dívidas e um futuro incerto para milhares de empregos.
A decisão foi aprovada com urgência pelo Conselho de Administração no dia 20 de outubro, depois que indícios de irregularidades em operações de swap, apontados contra a antiga diretoria financeira, assustaram credores e acionistas. A empresa, que atua na gestão ambiental e resposta a emergências, agora enfrenta processos paralelos nos Estados Unidos, onde sua subsidiária Ambipar Emergency Response pediu proteção sob o Chapter 11 perante a Bankruptcy Court for the Southern District of Texas.
Contexto e histórico da Ambipar
Fundada por Tércio Borlenghi Neto, fundador e Ambipar em parceria com a gestora Tanure, controlada por Nelson Tanure, o grupo cresceu rapidamente na última década. Aquisições agressivas na América Latina e na Europa expandiram a presença da empresa em gestão de resíduos, monitoramento de riscos e intervenções em emergências ambientais.
Mas o crescimento desmedido trouxe um preço: a estrutura de capital ficou sobrecarregada. A alta dos juros internacionais em 2024‑2025 somou-se à diminuição de contratos públicos, deixando a empresa vulnerável a qualquer sinal de fraqueza. "A estratégia foi ambiciosa, porém a alavancagem acabou se tornando um ponto frágil", comenta o analista de mercado Carlos Meireles, da XP Investimentos.
Detalhes do pedido de recuperação judicial no Brasil
A petição apresentada à justiça descreve a dívida total da Ambipar em R$ 10,7 bilhões, distribuídos da seguinte forma:
- US$ 1,065 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões) em bonds emitidos no exterior;
- R$ 3 bilhões em debêntures;
- R$ 2 bilhões em dívidas bancárias;
- R$ 230 milhões com fornecedores.
Entre os credores bancários, Santander lidera com R$ 663 milhões, seguido por Banco do Brasil (R$ 352 milhões) e Banco do Nordeste (R$ 207 milhões). O risco de inadimplência foi agravado quando as ações da empresa (ticker AMBP3) despencaram de mais de R$ 10 para R$ 0,58 entre 25 e 28 de setembro, provocando a exclusão da companhia de nove índices da B3.
O Conselho de Administração, ainda abalado, substituiu o ex‑diretor financeiro João de Arruda, ex‑CFO por Ricardo Garcia, que também assumiu a área de relações com investidores.
Proteção nos Estados Unidos e o Chapter 11
Enquanto o processo brasileiro tateia o chão, a filial americana – sediada nas Ilhas Cayman e listada na NYSE – optou pelo Chapter 11, a lei de falências que permite reorganização sob supervisão judicial. O pedido foi aceito pela Bankruptcy Court for the Southern District of Texas em 22 de outubro.
Além da unidade de resposta a emergências, a Ambipar Emergency Response também chegou a solicitar a recuperação de títulos de dívida emitidos no exterior, reforçando a estratégia de colocar todos os passivos internacionais sob a mesma proteção legal.
Especialistas em direito internacional apontam que o Chapter 11 pode facilitar um acordo mais rápido com credores estrangeiros, mas também traz o risco de um “cross‑border” complexo, caso o grupo não recorra ao Chapter 15 para estender os efeitos da decisão brasileira.
Repercussões no mercado e respostas dos credores
A notícia de que a Ambipar estava pedindo recuperação disparou volatilidade nos mercados. O índice Ibovespa recuou 0,8% no dia seguinte, e fundos de renda fixa que detinham debêntures da companhia viram sua rentabilidade despencar. "É um golpe duro para quem aposta em crédito corporativo de médio prazo", disse a gestora BRAM.
Alguns credores, como o Santander, já iniciaram negociações para renegociar prazos e garantias, enquanto instituições menores fizeram reivindicações de pagamento imediato, pressionando ainda mais a liquidez da empresa.
Em comunicado oficial, a Ambipar assegurou que "suas operações permanecem normais" e destacou que milhares de empregos diretos e indiretos continuam ativos. A empresa contratou a consultoria internacional FTI Consulting para conduzir investigação interna sobre os swaps suspeitos e colaborar com as autoridades.

Próximos passos e análise de especialistas
O próximo grande marco será a Assembleia Geral Extraordinária marcada para 5 de novembro, onde acionistas votarão a criação de um Conselho Fiscal e aprovarão um plano de reestruturação que pode incluir venda de ativos não‑core, como algumas unidades de gestão de resíduos na América Central.
Segundo a economista Ana Lucia Carvalho, do IPEA, "se a Ambipar conseguir um acordo de dívida que recapitalise a companhia sem precisar liquidar ativos estratégicos, ainda há espaço para recuperação”. Contudo, ela alerta que a confiança dos investidores já está seriamente abalada e que perdas de até 90% no valor de mercado são plausíveis.
Enquanto isso, a investigação criminal sobre o ex‑CFO João de Arruda segue em curso, com o Ministério Público Federal requisitando documentos bancários e contratos de swap. Fontes próximas ao processo sugerem que a empresa ainda pode buscar o Chapter 15 para alinhar as duas frentes judiciais, mas ainda não há decisão definitiva.
Impacto social e econômico
Para além dos números, o caso tem repercussão social: a Ambipar atende a mais de 300 emergências ambientais por ano, incluindo vazamentos de óleo e desastres industriais. Uma paralisação total poderia deixar lacunas críticas em regiões onde a empresa é a única provedora de resposta rápida.
O sindicato dos trabalhadores da Ambipar, representado por Maria Silva, já convocou uma reunião emergencial para discutir garantias de emprego e possíveis ajustes salariais caso a reestruturação implique corte de postos.
Perguntas Frequentes
Como a recuperação judicial no Brasil afeta os credores?
O processo suspende execuções e permite que a Ambipar apresente um plano de pagamento que pode incluir alongamento de prazos, descontos ou a troca de dívida por participação acionária. Credores com garantias reais, como o Santander, tendem a negociar termos mais favoráveis do que os credores quirografários.
O que é o Chapter 11 e por que a Ambipar optou por ele?
O Chapter 11 permite que empresas estrangeiras reorganizem suas dívidas sob proteção judicial nos EUA, mantendo ativos operacionais. A Ambipar escolheu essa via para evitar liquidação de seus ativos internacionais e ganhar tempo para renegociar os US$ 1,065 bilhão em bonds.
Quais são as perspectivas de recuperação para os acionistas?
Analistas estimam que o valor das ações possa cair até 90% se o plano de reestruturação implicar diluição significativa. No melhor cenário, um acordo de dívida que converta parte dos títulos em ações pode preservar parte do investimento, mas a volatilidade permanecerá alta.
Como a investigação dos swaps pode influenciar o caso?
Se ficar provado que o ex‑CFO João de Arruda e sua equipe executaram swaps ilegais, a empresa pode ser responsabilizada por perdas financeiras, o que aumentaria o montante a ser pago aos credores e agravaria a imagem institucional.
Qual o impacto para os serviços de emergência ambiental no Brasil?
Mesmo em processo de recuperação, a Ambipar declarou que manterá suas operações. Contudo, se a reestruturação exigir venda de unidades regionais, algumas áreas podem ficar sem cobertura adequada até que novos contratos sejam firmados.
Sr Chemical Plant MV
Sou jornalista especializado em notícias e adoro escrever sobre temas relacionados ao cotidiano no Brasil. Trabalho em um jornal local, onde cubro os eventos mais importantes do dia a dia.
1 Comentários
-
Priscila Araujo
outubro 22, 2025 AT 19:26A notícia da recuperação judicial da Ambipar chegou como um balde d’água frio para o setor ambiental.
Entendo que muitos trabalhadores e fornecedores estão preocupados com seus salários.
Também reconheço o esforço da diretoria em buscar proteção legal para evitar um colapso ainda maior.
É importante lembrar que a empresa ainda mantém suas operações essenciais em emergências.
Enquanto o processo judicial avança, a continuidade dos serviços pode ser garantida por acordos temporários.
Os credores, especialmente os bancos, têm um papel fundamental em renegociar prazos que não prejudiquem a liquidez.
A prática de swaps suspeitos é lamentável, mas a investigação pode trazer lições valiosas para o mercado.
Se a Ambipar conseguir um acordo equilibrado, pode emergir mais forte e com governança aprimorada.
O futuro dos milhares de empregos depende da capacidade de alinhar interesses de credores e acionistas.
Muitos trabalhadores têm experiências únicas e não devem ser descartados como simples custos.
A união dos sindicatos com a administração pode gerar concessões que preservem postos.
A comunidade também tem um interesse direto, já que a empresa responde a desastres ambientais críticos.
Uma solução de venda de ativos não‑core pode liberar capital sem comprometer a missão principal.
A participação dos trabalhadores nas discussões da Assembleia Geral é essencial para legitimar o plano.
Por fim, mantenho a esperança de que, com apoio mútuo, a Ambipar supere essa crise e continue contribuindo para a sustentabilidade do país.