As Discrepâncias nas Estimativas de Público
O cálculo do número de pessoas presentes em eventos públicos é sempre uma tarefa complexa e, muitas vezes, controversa. No caso da manifestação em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro realizada no último domingo na Avenida Paulista, em São Paulo, essa dificuldade ficou ainda mais evidente. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, cerca de 600.000 pessoas se concentraram na avenida durante o evento, número que subiria para aproximadamente 750.000 ao incluir as ruas adjacentes. Esses números, no entanto, foram fortemente contestados por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
Utilizando um método bastante preciso conhecido como Ponto a Ponto ou P2PNet, que envolve a análise detalhada de fotos aéreas tiradas por drones, os pesquisadores da USP estimaram que o público máximo presente foi de cerca de 185.000 pessoas. Esta enorme diferença nas estimativas destaca os desafios e a importância de métodos bem definidos para a contagem de grandes multidões.
Métodos de Contagem e Seus Desafios
A contagem do número de presentes em eventos como manifestações exige a consideração de diversos fatores. O método utilizado pela SSP provavelmente incluiu estimativas a partir de observações visuais e cálculos de densidade, que embora úteis, podem ser menos precisos. Já o método da USP, baseado em imagens aéreas, tem a vantagem de poder visualizar a extensão da multidão de um ponto de vista superior, permitindo uma análise mais precisa da densidade e distribuição das pessoas.
Ainda assim, nenhum método é infalível. Fatores como o movimento constante das pessoas, a fluidez da multidão e a presença de áreas mais densamente ou menos densamente povoadas podem influenciar significativamente as contagens finais.
Contexto Político e Importe da Manifestação
A manifestação na Avenida Paulista foi parte de uma estratégia maior de Bolsonaro para mostrar que ainda goza de um forte apoio popular, especialmente em um momento em que enfrenta diversas investigações e possíveis desafios legais. O evento ocorreu em um clima pacífico, com a presença de cerca de 2.000 policiais militares para garantir a segurança dos participantes. Além dos policiais em terra, drones e helicópteros foram usados para monitorar a multidão e garantir a ordem.
Comparado com outros eventos pró-Bolsonaro realizados anteriormente, este último foi particularmente notável pelo elevado número de participantes. Em novembro do ano passado, uma manifestação similar reuniu cerca de 13.000 pessoas, segundo estimativas. Esse aumento na participação pode ser interpretado de diversas maneiras, desde um crescente descontentamento com a situação política atual até uma eficiente mobilização por parte dos organizadores do evento.
Impacto e Repercussões nas Medições de Multidão
A divergência nas estimativas de público não é apenas uma curiosidade estatística; ela tem consequências reais sobre a percepção pública e a narrativa em torno desses eventos. Um número inflacionado de participantes pode ser utilizado para demonstrar um suporte mais robusto do que realmente existe, enquanto uma contagem menor pode minimizar a importância de uma manifestação significativa.
Para os apoiadores de Bolsonaro, uma estimativa elevada fortalece a imagem de um líder ainda muito popular e com grande capacidade de mobilização. Para os críticos, a contestação desse número é fundamental para questionar a real representatividade e apoio que o ex-presidente possui. Nos dois casos, as estimativas de público são usadas como armas retóricas em uma arena política já altamente polarizada.
Conclusão
As disputas em torno das contagens de multidões em eventos políticos são comuns e, como visto no caso da manifestação de Bolsonaro na Avenida Paulista, geram debates intensos sobre a veracidade e interpretação dos números apresentados. Independentemente das metodologias de contagem, o fato é que mobilizações como essa continuam a desempenhar um papel crucial em nossa democracia, refletindo as paixões e tensões que caracterizam o cenário político atual.
